As casas nunca mais vão voltar a ser como eram - e essa alteração não resulta apenas da experiência obtida pelos confinamentos durante a pandemia. A necessidade e/ou a vontade de trabalhar a partir de casa, a progressiva diminuição do automóvel e a importância cada vez maior atribuída à luz e ao espaço exterior, como jardins, varandas ou terraços, estão a alterar o mercado imobiliário. Os critérios para a compra de apartamentos e moradias mudaram e isso vai ter implicações, também, na construção.
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No Norte de Portugal, à partida ficam logo beneficiadas as cidades de praia, como Viana do Castelo, Vila do Conde ou Póvoa de Varzim, onde os imóveis beneficiam de proximidade do mar e de vistas largas e privilegiadas. No entanto, aquilo que até há pouco tempo parecia ser apenas uma perceção - a procura por terrenos em regiões mais próximas do interior - está hoje já mais do que confirmado. Assim, territórios mais pequenos, como Marco de Canaveses, Cinfães ou Baião ganham agora um novo fôlego no setor de compra e venda de casa.
O assunto tem feito correr muita tinta em toda a imprensa internacional, uma vez que a mudança não é apenas portuguesa. Recentemente, o semanário "Expresso" foi ouvir especialistas, para apurar ao certo o que vai mudar nas nossas habitações. E todos estão de acordo num ponto: espaço é a nova palavra de ordem. Quartos maiores e com zonas distintas, salas separadas das cozinhas, varandas e terraços, menos garagens, zonas comuns reaproveitadas e investimento nos espaços verdes, são alguns dos exemplos dados.
Há novos empreendimentos em fase de projeto que já têm varandas com áreas próximas de uma sala. A varanda é vista quase como uma extensão da área interior da sala. Outra grande mudança passa pela dimensão dos quartos, uma vez que os quartos, sendo utilizados sobretudo para dormir, costumam ter dimensões menores, sendo habitualmente atribuída maior área aos espaços de partilha familiar, como as salas. Neste momento, os quartos querem-se maiores, com área para dormir, mas também com uma zona de secretária para estudo ou trabalho. A pandemia veio mostrar que não é possível ter duas crianças a estudar na mesa da sala com os pais a trabalhar no lugar ao lado. Por outro lado, quartos com casa de banho privada e roupeiro são também cada vez mais procurados.
Os espaços verdes próximos das habitações são também um desejo dos novos compradores, sobretudo aqueles que residem nas grandes cidades. Para correr, caminhar, passear as crianças ou o cão, o ideal é ter um jardim perto de casa, sem ter de pegar no carro e percorrer vários quilómetros.
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Sendo claro que terá de ser repensada a utilização do automóvel, sendo impossível que cada habitante continue a ter a sua própria viatura, os imóveis terão de responder também a essa mudança. Com o metro quadrado cada vez mais caro e as pessoas a suspirar por espaço adicional para uma varanda ou quartos maiores, como arranjar espaço extra para vários lugares de garagem?
Mesmo para quem prefere a comodidade de um carro para cada adulto do agregado familiar, as cidades do futuro não irão permiti-lo, porque não é esse o modelo ambiental que está a ser seguido. Esse aspeto sente-se já ao circular pelas ruas das grandes cidades. No último ano surgiram mais cafés com esplanadas e os lugares de estacionamento são cada vez mais escassos. Procuram-se mais zonas pedonais e passeios mais largos.
Alda Azevedo, demógrafa e investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que tem desenvolvido estudos sobre habitação e população, considera que ainda é cedo para saber se todas estas mudanças vieram efetivamente para ficar. Mas tem uma certeza: "a função da habitação é garantir um abrigo em condições de segurança, conforto e privacidade". E isso, garante, não vai mudar. Daí, também, o aumento sentido pelo setor da construção civil para obras em casa e o incremento na procura de terrenos em zonas menos populosas, onde é mais fácil fazer bons investimentos e mais barato construir ou restaurar casas.
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